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Neuropsicologia: Estado actual

Neuropsicologia: Estado actual

Resumo:

No presente texto procuraremos apresentar uma súmula de temas como a Neuropsicologia, a sua evolução e aplicação, bem como focaremos a nossa atenção na grande distinção que se faz entre avaliação e reabilitação neuropsicológica.

Neuropsicologia: Estado actual

Autores:

Paula Alexandra Dias Teixeira, Licenciada em Psicologia pela Universidade da Beira Interior, Portugal, Aluna de mestrado, email:

Luis Alberto Coelho Rebelo Maia, Professor – Beira Interior University, Portugal; Clinical Neuropsychologist, PhD (USAL – Spain); Neuroscientist, MsC (Medicine School of Lisbon – Portugal); email:

Neuropsicologia

Definição

Desde há muitas décadas atrás que a patologia humana fornece informações cruciais acerca da relação cérebro – comportamento. As observações efetuadas a partir das disfunções neurológicas contribuíram para a compreensão de aspetos cognitivos – aquando do aparecimento da neurociência cognitiva (Thiers, Argimon & Nascimento, s.d.).

 A neuropsicologia utiliza a análise das lesões cerebrais como método para poder testar hipóteses da função cerebral em relação ao comportamento. A neuropsicologia realiza as suas investigações em seres humanos, como é óbvio, não provoca lesões com fins experimentais, mas aproveita as lesões que se produzem espontaneamente como consequência das doenças ou as lesões produzidas por cirurgias realizadas com fins terapêuticos. As experiencias neuropsicológicas realizadas com sujeitos lesionados envolvem uma seleção de fases da amostra que devem ser estritamente definidas (Junqué & Barroso, 2000).

Rao estabelece uma distinção entre a Neuropsicologia Humana e a Neuropsicologia Clínica (cit in Thiers, Argimon & Nascimento, s.d.), na qual defende que a primeira é multidisciplinar, envolvendo especialistas da Psicologia (experimental, cognitiva e clínica), da Neurologia, da Psiquiatria, da Linguística e das Neurociências em geral; enquanto a Neuropsicologia Clínica é tipicamente praticada por psicólogos clínicos, que se encontram responsáveis de aplicar o conhecimento científico derivado da pesquisa para avaliar e tratar indivíduos com suspeita de disfunção cerebral (Thiers, Argimon & Nascimento, s.d.).

Luria (1981, cit in Thiers, Argimon & Nascimento, s.d.) definiu a Neuropsicologia como “a ciência da organização cerebral dos processos mentais humanos” e que tem “como objectivo específico e peculiar investigar o papel dos sistemas cerebrais individuais nas formas complexas de actividades mentais”. Por outras palavras, a Neuropsicologia é a ciência que estuda a expressão comportamental das disfunções cerebrais, isto é, trata-se de uma especialidade que aborda as relações entre funções cerebrais e comportamento (Thiers, Argimon & Nascimento, s.d.).

Uma outra definição proposta para a Neuropsicologia é que esta é um “ramo das ciências que estudam as bases biológicas dos comportamentos”, ou seja, é constituída pela Psicobiologia e pela Psicologia Fisiológica, uma vez que são duas áreas que estudam a biologia nos fenómenos psíquicos. Consegue abranger a atividade biológica relacionada com o funcionamento do córtex cerebral, pelo que é uma área que requer a integração das ciências mais básicas do Sistema Nervoso, que são a Neuroanatomia, a Neurofisiologia e ainda a Neuroquímica (Junqué & Barroso, 2001).

A Neuropsicologia resulta da aplicação dos resultados científicos no diagnóstico e no tratamento de patologias do Sistema Nervoso Central, as quais têm consequências no comportamento do indivíduo (Associação Americana de Psicologia, 2002, cit in Junqué, 1992; Junqué & Barroso, 2001; Pinheiro, 2005; Kristensen, Almeida & Gomes, 2001). A APA partilha desta ideia, a partir do momento em que define a Neuropsicologia (Clínica) como “uma actividade no âmbito da intervenção psicológica que tem o seu fundamento na Neuropsicologia Humana”.

A Neuropsicologia é geralmente definida como o estudo das relações cérebro – comportamento. Naturalmente, esta definição não capta a multiplicidade de questões e abordagens que têm sido utilizados para explorar a forma como o sistema nervoso central representa, organiza e gere os recursos de infinita gama e ações humanas (Benton, 2000; Hebben & Milberg, 2002).

Segundo alguns autores a Neuropsicologia contempla vários objetivos, como promover a descrição científica das manifestações da patologia ao nível das atividades nervosas superiores, aumentando assim o conhecimento da fisiopatologia, das observações observadas, diagnóstico clínico, neuropsicológico e topográfico cerebral, subjacente a uma desordem comportamental, o estudo da influência da experiência e da aprendizagem sobre o substrato neuro funcional, bem como o estudo das representações internas dos fenómenos mentais (Perea, Ladera & Echeandía, 2001, cit. in Maia, Loureiro, Silva, Pato, Correia, Carvalho, Oliveira, Viegas, Amaral, Azevedo, Marques, Pombo, Branco & Pita, 2003; Bartolomé, Fernandéz & Ajamil, 2001).

Enquadramento Epistemológico

Apesar das definições que já foram facultadas, é necessário remontar à antiguidade da Neuropsicologia para que se possa compreender como foi evoluindo até aos tempos atuais e que autores contribuíram para o seu desenvolvimento.

Sabia-se que os antigos egípcios utilizavam a palavra “cérebro” e que começavam a entender algumas noções face à relação entre o cérebro e as funções motoras (Mäder, 1996).

O cérebro era considerado por Hipócrates como o órgão responsável pelas emoções e sentimentos, sendo que o mesmo já demonstrava interesse pela relação entre alterações da linguagem e do lado direito do corpo (Mäder, 1996).

Contudo, Platão defendia que tal como o coração era responsável pelas vontades e emoções e o baixo ventre pelo desejo,