Protocolo Pratico de Intervenção para as Perturbações de Ansiedade
Autor: Luis Maia, PhD | Publicado:  28/08/2012 | | |
Protocolo Pratico de Intervenção para as Perturbações de Ansiedade .4

i. Competência
O psicólogo deverá apresentar qualidade no seu trabalho, e manter-se actualizado acerca de novas investigações. Aquando da avaliação das suas competências como insuficientes o melhor é encaminhar a pessoa para outro colega.

ii. Responsabilidade
Cada psicólogo é responsável pelas consequências dos seus actos, assumindo a responsabilidade pela escolha, aplicação e consequências das estratégias usadas. Logo deverá assegurar-se que os procedimentos a que recorre não são usados para ofender nem oprimir nenhum indivíduo.

iii. Respeito pelos outros
Logo numa fase inicial torna-se necessário a obtenção do consentimento informado. Para além disso, saliente-se o facto da necessidade em respeitar a integridade pessoal dos indivíduos. Também não deverá ocorrer abuso de poder, tentando que os clientes revelem algo contra a própria vontade nem discriminação.

iv. Confidencialidade
A este nível, deve ser mantida a confidencialidade da informação transmitida por cada cliente. Mesmo em equipas multidisciplinares, a divulgação da informação implica o consentimento do próprio. Pode não manter-se a confidencialidade caso se trate de uma situação em que estão outros em risco ou o próprio paciente.

v. Integridade
O psicólogo deverá ser honesto, justo e respeitar os outros.

Princípios básicos: Adaptado de APPORT, n.d.

Avaliação cognitivo-comportamental

No que concerne ao processo de avaliação cognitivo-comportamental, Kirk (1997) refere que este tem por base alguns princípios, dos quais se destaca o facto de considerar que o indivíduo se comporta de diferente modo de acordo com a situação imediata e a interpretação que faz da mesma. Daí que se enfatizem problemas particulares e não entidades globais. Este autor salienta ainda um outro aspecto importante numa fase inicial, que é o facto de ser necessário que se construa um ambiente de confiança, sem crítica, e com empatia com o paciente, para que este revele informações importantes que por vezes são muito difíceis de comunicar. A este nível saliente-se a importância da aceitação incondicional do paciente, para a eficácia de qualquer tipo de terapia. O cliente necessita de sentir compreensão, e acreditar que o terapeuta está genuinamente interessado em ajudar (White, 1999). Assim, desde os contactos iniciais deve-se promover uma boa relação entre terapeuta e paciente, reforçar as suas capacidades e ajudá-lo a adquirir um maior grau de independência (Cordioli, 1998).

Ainda que grande parte da avaliação se realize nas primeiras sessões, este processo mantém-se ao longo de todo o processo de intervenção. Deste modo, Kirk (1997) aponta como métodos de avaliação a entrevista, a automonitorização, o auto-relato, as informações obtidas através de outras pessoas, a observação directa do comportamento em ambientes clínicos, alguns parâmetros objectivos comportamentais e medidas fisiológicas, os quais irão ser abordados a seguir.

Entrevista

No que respeita ao primeiro ponto, Gonçalves (2000) aponta o Guia para a Entrevista de Avaliação Comportamental e Cognitiva (G.E.A.C.C.), que para além de focalizar no problema também permite a recolha de dados acerca da história pessoal do cliente. Contudo, este autor alerta-nos para o facto de não esquecermos que mesmo seguindo um guia, se devem fazer as adaptações que consideremos necessárias tendo em conta o paciente em causa.

Por seu lado, Gouveia (2000) menciona-nos três exemplos de entrevistas semi-estruturadas mais utilizadas: a Entrevista para Distúrbios Afectivos e Esquizofrenia (Endicott & Spitzer, 1978), a Entrevista Estruturada para os Distúrbios da Ansiedade para o DSM-IV (Di-Nardo, Brown & Barlow, 1994) e a Entrevista Clínica Estruturada para o DSM (Spitzer, Williams, Gibbon & First, 1992). Um outro tipo de entrevista poderá ser o que se apresenta a seguir (quadro VII), que se focaliza essencialmente na exploração do comportamento problema.

Para melhor compreender o “como fazer” (como obter informação), irá explicitar-se cada um dos pontos de acordo com Clark (1997).

Habitualmente a entrevista inicia-se pedindo ao paciente para descrever os seus principais problemas. Este poderá relatar vários aspectos, como incapacidade de relaxar no emprego e em casa, sensação de fadiga, dificuldade perante as pressões do trabalho, entre outras. Assim, para cada um dos problemas que tenham sido apresentados é necessária uma descrição detalhada de cada um, em relação a uma situação recente em que tenha ocorrido. Aqui podem colocar-se questões em relação à situação (Onde estava? O que estava a fazer?), sensações corporais (O que notou no seu corpo? Que sensações experimentou?), cognições (Quando se sentiu ansioso em que pensou? O que lhe passou pela cabeça?), e comportamentos (Nessa situação, o que fez?).

Perante a descrição da situação recente deve verificar-se se essa se trata de uma situação típica e, caso não seja, deverá fazer-se a descrição de outras situações. Além disso, devem enumerar-se as situações em que o problema tem maior probabilidade de ocorrer (Há situações que considera mais prováveis para isso acontecer?).

Como forma de avaliar os evitamentos pode questionar-se a pessoa (Há situações que passou a evitar devido à ansiedade? Há coisas que fazia antes e que agora não faz devido à ansiedade?). O mesmo para os moduladores (Há coisas que aumentam a possibilidade da sua ocorrência? Há coisas que lhe ajudam a controlar os sintomas?).

Quanto às atitudes e comportamentos de pessoas significativas pode perguntar-se ao paciente o que é que X pensa do problema ou o que faz quando o paciente está ansioso. Em relação ao próprio, é necessário explorar as crenças que possui acerca do problema. No que diz respeito ao início e evolução, Clark (1997) salienta ainda que é necessária a recolha de informação acerca dos factores que terão sido responsáveis pelo seu surgimento e evolução.

No quadro VII apresentamos um breve sumário dos tópicos a serem abordados na fase de avaliação.

Descrição do(s) problemas apresentado(s) - para cada problema: descrição detalhada de uma ocasião recente em que o problema ocorreu ou se apresentou em sua forma mais pronunciada (Situação, Reacção corporal, Cognições, Comportamento); relação de situações em que a ocorrência do problema é mais provável/mais séria ; evitamento; moduladores; atitudes e comportamento das outras pessoas; crenças acerca da origem do problema; experimentos comportamentais; início e evolução
Medicação (prescrita e não prescrita)
Tratamento anterior
Pontos fortes e habilidades pessoais
Circunstâncias sociais e financeiras

Sumário dos tópicos a serem abordados na avaliação - Adaptado de Clark, 1997, p. 85

Automonitorização

Segundo Kirk (1997), para além da entrevista existe um outro conjunto de informações que não se obtêm durante a sessão, mas que podem ser obtidas recorrendo a registos de automonitorização, como tarefa para casa. No entanto, uma vez que este tipo de instrumentos são também parte integrante do processo terapêutico propriamente dito, apenas serão abordados mais adiante.

Auto-relato

Ainda que se encontre um vasto leque deste tipo de instrumentos de avaliação, apenas iremos referir alguns exemplos, mais especificamente para a Perturbação da Fobia Social tendo por base Gouveia (2000), e para a Perturbação Obsessivo-Compulsiva, de acordo com Salkovskis & Kirk (1997). Relativamente à primeira saliente-se a Escala de Evitamento e Desconforto em Situações Sociais, o Protocolo para Avaliação Clínica na Fobia Social (que inclui a Escala de Ansiedade e Evitamento em Situações de Desempenho e Interacção Social, Escala de Comportamentos de Segurança na Ansiedade Social e Escala de Incapacitação de Sheehan) e a Escala de Pensamentos Automáticos na Ansiedade Social (Gouveia, 2000).

No que concerne à Perturbação Obsessivo-Compulsiva, Salkovskis & Kirk, (1997) salientam como exemplos de instrumentos a utilizar o Inventário Obsessivo-compulsivo de Maudsley, o Inventário de Beck para a Depressão, o Inventário de Beck para a Ansiedade e a Lista de Verificação da Actividade Compulsiva.

Informações obtidas através de outras pessoas

Podem entrevistar-se também pessoas-chave (familiares ou outros significativos para o paciente) para fornecer informação à medida que surge in vivo, como também informação retrospectiva (Kirk, 1997).


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