Protocolo Pratico de Intervenção para as Perturbações de Ansiedade
Autor: Luis Maia, PhD | Publicado:  28/08/2012 | | |
Protocolo Pratico de Intervenção para as Perturbações de Ansiedade .9

IV. Auto-monitorização

Com base em Kirk (1997), este é um procedimento usado tanto na fase inicial do processo de avaliação, como na monitorização das mudanças posteriores. Pode ser aplicado tanto a problemas abertos como cobertos, permitindo o acesso a informação necessária, podendo por vezes ser completado por informações de familiares do paciente (e.g. tempo que um paciente obsessivo despende a lavar as mãos). Este procedimento permite uma maior consciencialização e compreensão das situações com as quais manifesta dificuldade em lidar, de modo a que procure estratégias mais adaptativas e adequadas (Vieitas, 1999).

Deverá ser o terapeuta a disponibilizar o formulário de registo ao paciente fazendo uma demonstração e esclarecendo eventuais dúvidas. É importante explicar também que os registos deverão ser contingentes à ocorrência do comportamento para que nenhuma informação seja esquecida ou deturpada (Kirk, 1997).

O processo de monitorização poderá ter como referência quadros de 3 colunas e/ou quadros de 5 colunas (numa fase posterior), para se identificar as distorções cognitivas e examinar a evidência das crenças. O objectivo é que o paciente desafie os padrões de pensamento negativo e desenvolva formas adaptativas de pensar acerca das situações ansiógenas (Woods, 1996).

Um exemplo de registo poderá ser aquele que se apresenta a seguir no quadro XVI.

Data - Hora

Situação
Descreva:
1.O que está a acontecer que possa ter levado à emoção
2.Pensamento, lembrança que possa ter levado à emoção.

Sentimentos
1. Especifique a emoção (e.g. triste, ansioso, zangado, etc.).
2. Assinale a intensidade da emoção (0- 100)

Pensamentos Automáticos
1. Anote o(s) pensamentos automáticos anteriores à emoção.
2. Indique o grau de convicção em cada pensamento (0-100)

Resposta Racional
1. Escreva a resposta racional para o(s) pensamento(s) registrado(s)
2. Avalie o grau de convicção em cada resposta racional (0-100)

Resultados
1 Reavalie o grau de convicção em cada pensamento automático
PA=(0-100)
2. Reavalie a intensidade de cada emoção (E=0-100)

Registo Diário de Pensamentos Disfuncionais - Grelha e conteúdos adaptados de Cordioli, 1998, p. 223 e Clark, 1997, 106-107

Explicação do Registo Diário de Pensamentos Disfuncionais: “Quando vivenciar uma emoção desagradável registe a situação que parece ter funcionado como estímulo. Se parecer que surgiu a partir de e pensamentos, lembranças, escreva-os. De seguida anote os pensamentos automáticos associados. Registe o grau em que acredita neles (0 = nada a pouco; 100 = totalmente). Registe também a intensidade da emoção (0 = traços mínimos; 100 = intensidade máxima).

Conteste racionalmente os pensamentos, submetendo-os às questões seguintes: (1) Que provas tenho de que isso seja mesmo verdade? (2) Que outras alternativas tenho para a compreensão da situação? (3) E se acontecer, será tão mau assim? Anote cada resposta racional e reavalie os pensamentos automáticos e os sentimentos associados”.

Após a identificação de pensamentos disfuncionais durante a consulta e posteriormente recorrendo aos registos de auto-monitorização, segue-se a fase da reestruturação cognitiva.

V. Técnicas de Reestruturação Cognitiva

Estratégias cognitivas

Após a identificação das distorções cognitivas, que mantêm as crenças do cliente (Cordioli, 1998) o terapeuta deverá proceder ao uso de estratégias para a reestruturação do pensamento do cliente, segundo os pontos apresentados no quadro XVII (Gonçalves, 2000; Beck, Emery, Greenberg, 1985).

Posteriormente poderá instruir-se o cliente a registar as cognições alternativas aos seus pensamentos disfuncionais.

A técnica do ponto – contraponto pode também ser utilizada. Consiste em alternar papéis entre o paciente e o terapeuta apresentando os pensamentos automáticos negativos e seus contra-argumentos. O terapeuta passa a apresentar diversas situações e distorções cognitivas e o paciente é encorajado a contrapor com cognições adaptativas. Quando o paciente revela dificuldade, trocam-se os papéis (Beck, Emery, Greenberg, 1985; Wells, 1997; Gonçalves, 2000).

a) Análise da evidência: onde se confronta a evidência das cognições recorrendo a

i. Análise lógica: o terapeuta analisa conjuntamente com o paciente a lógica dos seus pensamentos
ii. Fornecimento de informação: o terapeuta faculta informação relativamente aos pensamentos irrealistas na tentativa de ajudar a corrigi-los
iii. Teste de hipóteses: solicita-se ao paciente para fazer predições tendo por base as suas cognições e de seguida, realizar experiências para testar as suas predições
iv. Questionamento socrático: consiste em questionar as evidências que sustentam ou não as cognições e o desenvolvimento de interpretações opcionais (e.g. “Que evidências tem de que isso vai acontecer?”)
v. Técnica do gráfico em forma de tarte: esta técnica consiste na visualização dos pensamentos por intermédio de gráficos, para ajudar o paciente a discriminar qual a sua parcela de responsabilidade em algum resultado.
vi. Técnica da flecha descendente: o objectivo é recorrer ao questionamento sucessivo de uma dada cognição até que se atinja o cerne do seu significado.
vii. Análise das vantagens e desvantagens dos pensamentos disfuncionais: é utilizada para reforçar as desvantagens da crença e extenuar as suas vantagens
viii. Paragem de pensamento: consiste em, quando a pessoa está a desenvolver cognições que lhe provocam o aumento da ansiedade, interrompê-las pela verbalização de uma auto-instrução, por exemplo a palavra “PÁRA”, e de seguida utilizar outra técnica de distracção.
ix. Técnicas de distracção: estas técnicas podem ser usadas para o manejo imediato dos sintomas.

Dentre estas técnicas podem destacar-se: enfoque no objecto (consiste em o paciente focar a atenção num objecto descrevendo todos os seus pormenores: a cor, o tamanho, onde se encontra…); percepção sensorial (o paciente é instruído a concentrar a sua atenção no ambiente à sua volta usando a visão, a audição, o paladar, o tacto e o olfacto, fazendo-se perguntas como “O que vê à sua volta?”, “Que gosto sente?”; “Pode sentir o seu corpo na cadeira?”, entre outras…); exercícios mentais (este tipo de exercícios consiste na contagem regressiva a partir por exemplo de 1 000, ou pensar em animais começando com cada letra do alfabeto, ou seja, qualquer actividade mental que lhe ocupe a atenção; lembranças e fantasias agradáveis (instruir o cliente a evocar imediatamente lembranças de prazeres e fantasias passadas (e.g. férias na praia) quando começar a sentir-se ansioso; actividade física (manter-se física e mentalmente activo e distraído dos pensamentos que o preocupam é um dos melhores benefícios de praticar desporto. Mas a actividade física não se reduz ao desporto, inclui também actividades como lavar a loiça após a refeição, mudar a musica que está a ouvir…); meditação (técnica não só de distracção mas principalmente de relaxamento. (Iremos descrevê-la melhor mais adiante)); ler ou conversar com alguém.

b) Classificação dos erros cognitivos: nesta fase, perante os registos de pensamentos disfuncionais, ensina-se o cliente a analisá-los e a anotar qual das seguintes distorções

i.Inferência arbitrária: expressar conclusões na ausência de evidências
ii. Abstracção selectiva: abstrair um detalhe da situação ignorando as características mais importantes
iii.Sobregeneralização: com base num único acontecimento, sobregeneralizar.
iv.Magnificação/Minimização: distorção do grau de importância de uma ocorrência por um dos dois processos
v.Personalização: atribuir a causa de um acontecimento externo a si próprio
vi..Pensamento Dicotómico: avaliação da experiência em termos de categorias exclusivas entre si

c) Confrontação verbal dos pensamentos automáticos: de um modo geral, algumas das questões que se podem colocar ao paciente podem ser:

o “Que indícios tem para esse pensamento?”; “Há alguma forma alternativa de olhar para essa situação?”
o “O que é que outra pessoa pensaria acerca desta situação?”
o “Os seus julgamentos baseiam-se em como se sentiu e não no que fez?”
o “Será que está a exigir um padrão de comportamento irrealista e inatingível?”
o “Não estará a esquecer-se de factos importantes e a centrar-se apenas em aspectos irrelevantes?”
o “Está a pensar em termos de tudo ou nada?
o “E se acontecer?”, “o que de pior lhe poderia acontecer?”


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