Protocolo Pratico de Intervenção para as Perturbações de Ansiedade
Autor: Luis Maia, PhD | Publicado:  28/08/2012 | | |
Protocolo Pratico de Intervenção para as Perturbações de Ansiedade .6

Fobia social

 Inibidores da Monoaminoxidase: fenelzina (os efeitos secundários incluem insónia, disfunção sexual, agitação e disfunção hepática. Para além disso requer uma dieta em que se evitem comidas ricas em tiramina, como queijos, vinho tinto, entre outros)

O National Health Committee (1998) recomenda que não se prescreva medicação num cuidado primário de pacientes com este tipo de perturbações.

Perturbação de stress pós-traumático

 Inibidores Não Selectivos da Recaptação das Monoaminas: imipramina
 Inibidores da Monoaminoxidade: fenelzina
 Inibidores Selectivos da Recaptação da Serotonina: fluoxetina
 Antiepilépticos derivados da carboxamida: carbamazepina (as três últimas com pouca evidência de eficácia)

Mais uma vez, também nesta perturbação o National Health Committee (1998) não recomenda a farmacoterapia como tratamento em cuidado primário. De facto, e segundo o mesmo organismo (1998) não está definida uma abordagem farmacológica a esta perturbação, mas um conjunto de medicações que podem ser eficazes na redução de alguns sintomas.

Fármacos mais indicados para as perturbações de ansiedade mais referenciadas - com base em Kaplan et al., 1997; National Health Committee, 1998; Ballenger, 1999; Buller, Legrand, 2000; Simposium Terapêutico, 2004

Como vimos anteriormente, a medicação não é recomendada para todas as perturbações de ansiedade. De facto, e segundo o National Health Committee (1998), é necessário precaução no uso de medicação em perturbações que entrem em remissão espontaneamente, de alta severidade e as muito específicas que não interfiram no funcionamento social e ocupacional da pessoa. Desta forma, podemos dizer que o uso de medicação é contra-indicado quando a afectação do funcionamento da pessoa é mínima. De acordo com o National Health Committee (1998), o recurso à farmacoterapia é indicado quando os sintomas são severos e o grau de afecção funcional a nível social e ocupacional são elevados; quando se verificam também sintomas de depressão moderada ou severa associados, ou quando usada em consonância com a terapia cognitivo-comportamental.

Quando é prescrito um ISRS, é importante ter em consideração que no início do tratamento tende-se a verificar um aumento da ansiedade. É importante alertar os pacientes para este efeito secundário, de modo a evitar o drop-out da medicação.

Por outro lado, Buller & Legrand (2001) referem que as benzodiazepinas são mais eficazes num tratamento de curta duração, como situações de ansiedade aguda, enquanto que os antidepressivos se têm mostrado eficazes tanto em tratamentos de curta como de longa duração. Estes autores apontam também que a medicação usual para as perturbações da ansiedade tem vindo a ser substituída por antidepressivos, «as most of the so-called ‘antidepressants’ are not only efficacious in depression but also in the acute and long-term treatment of GAD, OCD, SAD, PD and PTSD» (p.1221).

Terapia Cognitivo-Comportamental

O aspecto central da terapia cognitivo-comportamental para as perturbações de ansiedade consiste na modificação de variáveis cognitivas e comportamentais que estão a actuar como factores de manutenção dos problemas derivados da ansiedade. Habitualmente, numa primeira fase recorre-se ao alívio sintomático, enquanto que os esquemas são modificados numa fase posterior do tratamento (Wells, 1997). Hodgson & Rachman (1974, In Serra, 1989) referem mesmo que numa intervenção terapêutica estes sistemas de resposta não são modificáveis simultaneamente. O comportamento motor é o mais influenciável, uma vez que facilmente se criam condições de confronto voluntário com o estímulo aversivo. O componente cognitivo é o último a ser corrigido.

Características

No que concerne ao estilo geral da terapia, este pode resumir-se ao facto de se preverem entre 10 a 15 sessões, com duração de 45 a 60 minutos (Wells, 1997), onde ressalta o “empirismo cooperativo” (Beck, Emery & Greenberg, 1985; Beck, Rush, Shaw e Emery, 1979; In Clark, 1997). Tratam-se de sessões estruturadas, durante as quais são fornecidos feedbacks para um melhor entendimento e são atribuídos trabalhos de casa relativos a algum tópico abordado na sessão. Ou seja, de um modo geral, e segundo Cordioli (1998), a terapia cognitivo-comportamental apresenta as seguintes características, mencionadas no quadro XI.

Activa: paciente e terapeuta agem de modo cooperativo no sentido de resolver o problema e permitir que o paciente aprenda a identificar e modificar os seus próprios pensamentos;
Directiva: preocupa-se com os problemas no “aqui e agora” trabalhando pensamentos, sentimentos, comportamentos recentes, recorrendo à história passada somente quando tal contribui para maior compreensão das crenças.
Educativa: uma vez que o terapeuta ensina o paciente o modelo cognitivo, a natureza do seu problema, o processo terapêutico e a prevenção da recaída.
Estruturada: tem uma sequência de sessões programadas antecipadamente.
Prazo limitado: geralmente são precisas 16 a 20 sessões, apesar de em certos casos serem necessárias mais algumas.
Utiliza tarefas de casa: estas têm como objectivo central o aumento da afectividade e a generalização dos efeitos da terapia.
Utiliza técnicas comportamentais e/ ou cognitivas para a modificação das crenças do paciente.

Caracterização da Terapia Cognitivo-Comportamental - Adaptado de Cordioli, 1998

Alguns estudos levados a cabo por Ley (1979; In Clark, 1997) revelam que os pacientes apenas retêm uma fracção das informações fornecidas na consulta. Assim, para colmatar esta limitação poderá recorrer-se à anotação das respostas dadas aos pensamentos após a sua identificação, ou gravar a sessão numa cassete e fornecê-la ao paciente para a voltar a ouvir em casa.

Antes de expormos algumas das estratégias às quais se poderá recorrer aquando de uma perturbação de ansiedade, pretendemos clarificar alguns aspectos a ter em conta no processo.

Inicialmente, na terapia cognitivo-comportamental, o terapeuta é um agente muito activo. No entanto, de forma gradual, é transferida a responsabilidade ao paciente pelo decorrer do processo. Além disso, o paciente é desde cedo encorajado a utilizar no dia-a-dia os ganhos que vão sendo obtidos ao longo das sessões (Cordioli, 1998).

Assim, deverá tentar-se motivar o paciente a envolver-se no processo, pois existem algumas técnicas que podem ser difíceis para o mesmo, (e.g. um sujeito obsessivo-compulsivo com rituais de lavagem: colocar as mãos no lixo e não as poder lavar de imediato, ou um sujeito com fobia social ser exposto perante os colegas de trabalho, entre outros) (Cordioli, 1998).

Técnicas cognitivo-comportamentais

As técnicas cognitivo-comportamentais têm assim como objectivo «reduzir a ansiedade ao ensinar os pacientes a identificar, avaliar, controlar e modificar os seus pensamentos negativos relacionados à noção de perigo e a comportamentos associados» (Clark, 1997, p.93-94).

I. Psicoeducação

Para Glick (1994, p.104; In Andrade, n. d.), a psicoeducação é entendida como «uma técnica na prática clínica, é a administração sistemática, pelo médico, de informações sobre sintomas, etiologia, tratamento e curso da doença, com os objectivos de aumentar o conhecimento e modificar comportamentos». Torna-se então importante que este processo seja levado a cabo não só com o paciente, mas também com os seus familiares. O aspecto educacional parece estar associado ao aumento da adesão à medicação e à diminuição da frequência/ou intensidade das crises de ansiedade. Além disso, é um processo central na compreensão da perturbação bem como das estratégias a serem utilizadas (Wells, 1997). A sua utilização é indicada para, logo após o diagnóstico e poderá realizar-se de forma individual ou grupal (Andrade, n.d.).

Seguidamente apresentaremos alguns exemplos de temáticas a abordar nas perturbações de ansiedade (Cordioli & Teruchkin; 2000; Andrade, n. d.).

Gráfico da ansiedade

Por vezes o paciente pode surgir com a expectativa que com o decorrer do processo terapêutico irá eliminar toda a sua ansiedade. Deste modo, torna-se pertinente explicar que a reacção de ansiedade é uma resposta natural do organismo e necessária para um funcionamento adequado da pessoa, e por isso não se consegue extingui-la totalmente, mas sim torná-la menos disfuncional para si.

Além disso, deve-se discutir o modo como o paciente sente o evoluir da ansiedade, referindo ainda que, atingindo um determinado nível, esta tende a voltar ao estado normal.


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