Protocolo Pratico de Intervenção para as Perturbações de Ansiedade
Autor: Luis Maia, PhD | Publicado:  28/08/2012 | | |
Protocolo Pratico de Intervenção para as Perturbações de Ansiedade .7

Permitimo-nos apresentar em seguida uma sugestão sobre como se pode apresentar graficamente ao paciente a evolução dos sintomas de ansiedade (Fig.1).

Nesta apresentação da conceptualização do caso ao paciente, deverá explicar-se ao paciente a relação pensamento-emoção-comportamento (Wells, 1997; Simmons & Daw, 2003).

De seguida deverão ser abordados aspectos como:

Etiologia (explicitado no tópico: Questões relacionadas com o tratamento da ansiedade), bem como a manutenção dos sintomas (explicitado no tópico: Questões relacionadas com o tratamento da ansiedade) 

protocolo_ansiedade/evolucao_da_ansiedade

protocolo_ansiedade/teoria_cognitiva_perturbacoes

Curso e prognóstico

A explicação a dar ao paciente relativamente ao curso e prognóstico, dependerá da sua patologia específica. Por exemplo, se for o caso de uma perturbação obsessivo-compulsiva, é importante referir que mais de 50% dos casos apresentam um início súbito e que na maioria dos casos surge após um acontecimento stressante. De acordo com Kaplan et al. (1997) o curso poderá ser constante ou flutuante. Um melhor prognóstico exige um bom ajustamento profissional e social, a não realização de compulsões, ter ocorrido um acontecimento despoletador e sintomas de carácter episódico.

Medicação

Na opinião de Versiani (2001), apesar da medicação não poder ser prescrita pelo psicólogo, este deverá reencaminhar o paciente para um médico especialista.

No entanto, este autor defende que mesmo neste âmbito o psicólogo tem um papel importante, ao nível da educação dos pacientes acerca dos efeitos da componente medicamentosa, especialmente os efeitos secundários que poderão daí advir. É importante assim, tal como menciona Versiani (2001), que se explique ao paciente que por vezes os medicamentos demoram semanas a induzir efeitos terapêuticos notórios, ainda que, muitas vezes, os efeitos indesejáveis surjam logo após o início do tratamento.

Desmistificações

A desmistificação de algumas assumpções que as pessoas por vezes apresentam acerca da ansiedade (Powell, 2000) configura-se como de clara importância:

“Estou a ficar maluco” – não existe nenhuma relação causal directa entre as perturbações de ansiedade e doenças mentais severas
“Vou perder o controle” – não existe nenhum caso descrito em que alguém tenha feito algo fora de controle, selvaticamente ou contra a sua vontade.
“Vou ter um ataque cardíaco” – apesar da maior parte dos sintomas de ansiedade serem similares aos de um ataque cardíaco, estão mais relacionados com a tensão em que a pessoa se encontra, e tendem a desaparecer com relaxamento e com o assar do tempo (relativamente à situação específica).
“Esta ansiedade vai fazer-me mal” – apesar de apresentar-se como desagradável, só em casos muito severos e crónicos a ansiedade provoca danos físicos.
“Vou desmaiar” – isto só poderá acontecer se o batimento cardíaco e a pressão sanguínea alcançarem níveis de activação exacerbadamente disfuncional.

Uma vez que as perturbações de ansiedade englobam várias patologias, os conteúdos a abordar deverão adaptar-se à patologia em causa.

Com a psicoeducação pretende-se assim promover a compreensão da patologia, aumentar o compromisso com o bem-estar, a adesão ao tratamento e criar um espaço terapêutico para compartilhar experiências de vida comuns (Andrade, n.d.).

II. Relaxamento

Quando estamos sob elevado nível de stress, os nossos músculos ficam tensos, e isto provoca cefaleias, dores nas costas, dores no peito, entre outras sensações desconfortáveis (Powell, 2000). Estas sensações podem provocar preocupação, o que nos leva a ficar mais ansiosos e tensos. Contudo, através de técnicas de relaxamento podemos diminuir ou mesmo extinguir estes sintomas de tensão. Assim, o objectivo das técnicas de relaxamento não é nada mais do que despoletar um estado de relaxamento autónomo, ou seja, «relaxation techniques use systems which we can control, to affect those we cannot» (Heron, 2002, p.5). De facto, com as estratégias de relaxamento progressivo “ensinamos aos músculos como relaxar”, e com as visualizações guiadas apresentamos à mente situações despoletadores de calma, pacíficas, levando à desactivação ansiogénica. O relaxamento profundo, devido ao facto de o sujeito atingir um estado de activação cerebral de ondas alfa, está associado a sentimentos subjectivos de bem-estar e felicidade. Assim, através do relaxamento podemos alterar o nosso estado de humor, realizando alterações importantes nas nossas vidas (Heron, 2002).

O relaxamento pode ser usado com três fins distintos: para ajudar as pessoas de modo geral, em áreas problemáticas específicas, e como estratégia integrante de uma abordagem terapêutica, como a Terapia cognitivo-comportamental (Heron, 2002). Esta técnica pode ser aplicada em pessoas de qualquer faixa etária, inclusive pessoas com dificuldades de aprendizagem severas ou demências. No entanto, o relaxamento não é adequado para todas as situações, tal como na intervenção em crise, em casos de depressão, quando as pessoas estão num estado de agitação tal que não conseguem relaxar desta forma, em casos de doença mental severa como a esquizofrenia, ou mesmo quando as pessoas não querem recorrer a este tipo de técnica (Heron, 2002).

Existem vários tipos de relaxamento (Gonçalves, 1999; Heron, 2002; Simmons & Daw, 2003): relaxamento muscular progressivo (processo de relaxamento para 16 grupos musculares, para 7 grupos musculares, para 4 grupos musculares, relaxamento por recordação); respiração; visualização e meditação.
Em seguida abordaremos mais aprofundadamente o Relaxamento Progressivo Muscular, a Respiração e a Visualização.

Relaxamento Muscular Progressivo

Para Clark (1997, p. 131) é importante explicar ao paciente que:

“A ansiedade pode manifestar-se a três níveis: fisiológico (e.g. taquicardia, sudorese, tensão muscular), comportamental (e.g. evitamentos, fuga) e cognitivo (e.g. pensamentos negativos, tais como “vou desmaiar”). Habitualmente as pessoas experienciam uma alteração fisiológica, depois um pensamento negativo que vai agravar a primeira originando um ciclo vicioso. Uma forma de quebrar esse ciclo é controlar a componente fisiológica, o que pode ser conseguida mediante a utilização do relaxamento. O objectivo de muitas das técnicas de relaxamento é ensinar a relaxar os músculos de forma voluntária para que tome consciência das sensações de tensão e lassidão e identifique os pontos de maior tensão do organismo. Assim, quando conseguir identificar os primeiros sinais de ansiedade poderá recorrer ao relaxamento. Para a identificação destes primeiros sinais é necessário que recorra a registos de episódios de ansiedade registando a situação, a sua intensidade (0-10) e os primeiros sinais percebidos. Não esquecer que durante o tratamento é necessário recorrer à prática quotidiana de exercícios em casa.”


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